ANEMIA INFECCIOSA EQUINA (AIE)

Aqui você encontrará um resumo, mapas mentais, estudos dirigidos e materiais complementares sobre a Anemia Infecciosa Equina (AIE).

MODO ESCURO

  1. INTRODUÇÃO

A Anemia Infecciosa Equina é uma doença exclusiva de equídeos causada por um lentivírus transmitido via vetor mecânico, sendo o mais comum o tabanídeo conhecido como mutuca. É caracterizada por ser uma infecção persistente, possuindo quadros intermitentes de febre, anemia e edema. Não possui cura ou vacina, sendo obrigatório por legislação a eutanásia de animais positivos, exceto em casos específicos. 

Pode ser chamada de febre dos pântanos ou febre petequial dos cavalos, por ser comum em áreas úmidas, baixas e pantanosas que apresentam maior número de insetos hematófagos, e por causar hemorragias petequiais devido ao seu tropismo por células mesenquimais. Também pode ser chamada de “AIDS” do cavalo por ser causada por um retrovírus, mesma classificação dada ao vírus do HIV.

 

  1. ETIOLOGIA

O vírus da anemia infecciosa equina (ou EIAV na sigla em inglês) é um lentivírus do tipo RNA pertencente à  sub famíla Lentavirinae, família Retroviridae. É pleomórfica, variando de esférica a ovalada, possui diâmetro de 90 a 200nm, e possui envelope fosfolipídico externo de 7 a 9nm com glicoproteínas de superfície e transmembranas. O vírus da AIE possui tropismo pelas células mesenquimais e do sistema mononuclear fagocitário (SFM). 

Em sua estrutura viral possui dois tipos de antígenos importantes, os antígenos de nucleocapsideo e os antígenos de glicoproteínas. Os antígenos de nucleocapsídeo são os mais estáveis e menos variáveis, e por isso são utilizados nos métodos de diagnóstico. Já os antígenos das glicoproteínas de superfície, que são as mais imunogênicas, são hipervariáveis. Devido a essa característica, o vírus da AIE possui um mecanismo chamado de desvio antigênico. O desvio antigênico é uma mudança dos determinantes antigênicos (ou seja, dos antígenos de superfície) que ocorre quando há uma pressão pelo sistema imune. Após ser fagocitado pelo macrófago, o vírus entra em estado de latência e modifica suas glicoproteínas. Essa modificação faz com que ele após se replicar e sair do macrófago não seja mais reconhecido pelos anticorpos neutralizantes que foram produzidos anteriormente. Devido a esse fenômeno, não há possibilidade de vacinação eficiente.

 

  1. EPIDEMIOLOGIA

A AIE é uma doença endêmica com distribuição mundial, morbidade e mortalidade variáveis, e  predomina em regiões úmidas de clima tropical e subtropical, que são regiões com condições ecológicas que favorecem a população de insetos hematófagos. Assim, é comum ocorrer em regiões que possuam coleções d’água e que há a concentração e deslocamento de animais (como ocorre em eventos esportivos e culturais). Não possui predileção por raça, sexo ou idade. Existem três fatores principais para que haja a transmissão do vírus. O primeiro fator é a necessidade de que o animal infectado possua uma alta titulação do vírus na sua corrente sanguínea. Após isso, é necessário que haja um grande volume de sangue contaminado sendo carreado pelo vetor, e por último que a via de transmissão seja a inoculação.

A principal forma de transmissão é através de insetos hematófagos, que funcionam como vetores mecânicos. Em sua maioria ocorre pelos tabanídeos conhecidos como mutuca, que possuem grande capacidade de repasto sanguíneo, e em minoria também pelo Stomoxys calcitrans, pelos Aedes e Anófeles. Além disso, também é possível que haja a transmissão iatrogênica, que ocorre no uso inadequado de agulhas de sangria compartilhadas e equipamentos mal esterilizados como casqueadores, tosquiadeiras, arreios, esporas, sondas nasogástricas e nasoesofágicas. É possível também a transmissão da égua para o potro por via intra uterina ou por colostro, e do garanhão para a égua através do sêmen contaminado (que só ocorre quando o garanhão está na fase aguda com alta titulação de vírus).   

 

  1. PATOGENIA

Após a inoculação na corrente sanguínea, os vírus se aderem às células alvo, que são as células do sistema fagocítico monocitário, inserindo seu material genético e três enzimas fundamentais para sua replicação: a transcriptase reversa,  a integrase e a protease. Após sua replicação, ocorre a viremia, e os vírus se difundem para os órgãos linfóides como linfonodos, baço, fígado e medula óssea. O período de incubação varia de 3 a 70 dias, dependendo da dose infectante, e ocasiona diversas formas de evolução, como superaguda, aguda, sub aguda, crônica e latente.

Devido a sua capacidade de desvio antigênico, ocorre uma hipergamaglobulinemia, que é um excesso de anticorpos neutralizantes produzidos pelo sistema imune que não conseguem reconhecer o vírus que se modifica constantemente. Assim, o excesso de anticorpos neutralizantes sem função na corrente sanguínea começa a se ligar aos elementos do sangue, principalmente nas hemácias. 

As hemácias após serem opsonizadas pelos anticorpos excedentes são fagocitadas e lisadas (sofrem uma hemólise extravascular pela eritrofagocitose), liberando ferro e hemoglobina, que ocasiona aumento de bilirrubina e icterícia. Além disso, devido ao vírus afetar a medula óssea, as novas hemácias produzidas chegam na corrente sanguínea com má formação e menor vida útil. É devido a essa opsonização e vida útil menor das hemácias que a AIE causa anemia. Os complexos antígeno-anticorpo em excesso começam a se ligar também no endotélio dos vasos sanguíneos, causando arterite e hemorragias, e se ligam aos glomérulos renais gerando insuficiência renal, que tem como consequência proteinúria e hipoproteinemia (que causa ascite e edema).   

 

  1. SINAIS CLÍNICOS

Os sinais clínicos são conhecidos como a tríade da AIE: febre, anemia e edema, apresentada em crises intermitentes de períodos irregulares, sendo predominantemente crônica, apesar de apresentar várias formas clínicas.

Na forma aguda apresenta febre, depressão, anorexia, fraqueza, anemia intensa, trombocitopenia, icterícia, taquicardia, hemorragias petequiais, aborto, insuficiência renal e edemas. Na forma sub aguda é possível observar emagrecimento, grandes edemas e anemia pronunciada. A partir da forma crônica é mais difícil realizar o diagnóstico pois os sintomas são mais leves, possuindo anemia, emagrecimento e edemas mais brandos. Na forma latente não é possível observar sinais clínicos.

  1. PATOLOGIA CLÍNICA

Podem apresentar anemia, leucopenia, trombocitopenia, hiperglobulinemia e hipoproteinemia.

 

  1. ACHADOS DE NECRÓPSIA 

Os achados anatomopatológicos vão depender da fase em que o animal estava no momento do óbito, seja através de eutanásia ou de morte natural. Caso o animal esteja na fase aguda será visualizado o aumento de volume principalmente dos órgãos linfoides, como a hepatomegalia (com focos de hemorragia no parênquima), esplenomegalia (com petéquias na cápsula) e linfadenopatia, além de hemorragias viscerais, icterícia generalizada, edemas e miocardite (devido a presença de células mesenquimais). Nos animais crônicos também é possível visualizar o espessamento dos vasos glomerulares.

 

  1. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico da AIE é feito a partir dos dados epidemiológicos, sinais clínicos e exames laboratoriais feitos em laboratórios credenciados que respondem ao serviço de defesa sanitária. 

O material utilizado para exame laboratorial é o soro sanguíneo, que só pode ser coletado exclusivamente por um médico veterinário. O teste utilizado com triagem é o ELISA e possui alta sensibilidade. Já o teste utilizado como confirmatório é o teste de Coggins, ou teste de imunodifusão em gel de ágar (IDGA), que possui alta especificidade e é o método laboratorial oficial em vários países, inclusive no Brasil. O teste de IDGA é baseado no encontro do antígeno viral com o anticorpo tipo precipitante do animal que se difundiram em um meio semi-sólido (gel de ágar), e após se encontrarem precipitam formando uma linha visível a olho nu. Apesar de específico, o IDGA possui pouca reação caso seja realizado no início da infecção, e por isso segundo a IN 45 do MAPA devem ser realizados 2 testes consecutivos com intervalo de 30 a 60 dias entre eles para que seja feita a confirmação do diagnóstico.

 

  1. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL

Doenças consideradas no diagnóstico diferencial para o AIE são:

  • Babesiose;
  • Estrongilose;
  • Leptospirose. 

 

  1. TRATAMENTO

A AIE não possui tratamento.

 

  1. CONTROLE E PROFILAXIA

A AIE é uma doença que faz parte do Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos (PNSE), que dita as medidas de controle e profilaxia da AIE. As principais medidas estão relacionadas ao combate de insetos hematófagos (como com telas e repelentes), quarentena antes da inserção de novos animais no plantel, esterilização de utensílios e materiais cirúrgicos, controle rigoroso do trânsito de animais e eutanásia dos animais positivos (exceto em alguns casos).

Para que haja o transporte interestadual e participação em eventos de um equídeo, este deve apresentar atestado com resultado negativo para AIE, com validade de 60 dias a partir da data da coleta do material, e validade de 180 dias caso o equídeo venha de uma propriedade controlada. Potros devem ser testados a partir dos 6 meses, e podem circular sem o teste caso tenham menos que 6 meses e estejam acompanhados da mãe negativa. Caso a mãe seja positiva,  Caso a mãe seja positiva, é necessário o isolamento do potro por um período mínimo de 60 dias e a seguir a obtenção de 2 teste  negativos e consecutivos com intervalo de 30 a 60 dias entre eles. 

Todo equídeo com resultado positivo deverá ser obrigatoriamente notificado e eutanasiado, podendo ser encaminhado para abatedouro, m caminhão telado e lacrado, visto que a AIE não é uma zoonose. Assim que detectado, a propriedade é considerada um foco de AIE e é interditada, com proibição do trânsito de equídeos e de qualquer equipamento que possa veicular o vírus. A interdição dura até o momento que o animal positivo seja eutanasiado, e todos os outros equídeos do plantel testam negativo em 2 testes consecutivos. 

Em regiões que possuam alta taxa de incidência da doença é permitido que se faça o isolamento ao invés da eutanásia, dependendo de autorização da CECAIE (Comissão Estadual de Controle da Anemia Infecciosa Equina). O animal deverá ficar isolado em propriedade que fique a pelo menos 200 metros de distância de outras propriedades com animais negativos, e ser marcado com a letra A em um círculo 8cm mais a sigla da UF com ferro candente no lado esquerdo da paleta. Caso o equídeo seja encaminhado para o abate sem paradas ao longo do caminho, não é necessário a marcação na paleta. Caso seja transportado para o abatedouro, porém tenha paradas ao longo do trajeto, é obrigatória a marcação. 

 

  1. REFERÊNCIAS

 

DAMAZIO, L. C. et al. ANEMIA INFECCIOSA EQUINA (AIE) – REVISÃO DA LITERATURA. Revista de Medicina Veterinária do UNIFESO. Editora UNIFESO. V. 2, N.1, 2022. Disponível em: <https://revista.unifeso.edu.br/index.php/revistaveterinaria/article/view/3058/1157>. Acesso em  8 agosto 2022.

 

MAIA, C.A. et al. Anemia Infecciosa Eqüina – Revisão de literatura. PUBVET, Londrina, V. 5, N. 11, Ed. 158, Art. 1067, 2011. Disponível em <https://www.pubvet.com.br/artigo/1550/anemia-infecciosa-equumlina-ndash-revisatildeo-de-literatura>. Acesso em  8 agosto 2022.

 

MEGID, J, RIBEIRO, M.G.PAES,A.C. Doenças infecciosas em animais de produção  e  de companhia, 1 ed., Editora Roca. Rio de Janeiro, 2016.

 

SLIDES DE AULA DO PROFA DR HELENITA MARQUES – DOENÇAS INFECCIOSAS DOS ANIMAIS DOMÉSTICOS – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA FACULDADE DE VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE, 4/2022.

 

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