IMUNODEFICIÊNCIA VIRAL FELINA – FIV

Aqui você encontrará um resumo, mapas mentais, estudos dirigidos e materiais complementares sobre a Imunodeficiência Viral Felina – FIV.

MODO ESCURO

  1. INTRODUÇÃO

Os retrovírus são chamados também de RNAvírus e formam a família Retroviridae. Caracterizam-se por terem um genoma constituído por RNA simples, que consiste em aproximadamente 8.500 nucleotídeos. Infectam predominantemente animais vertebrados e possuem genes denominados oncogenes (cancerígenos). A maioria dos retrovírus não causa doenças graves, porém não podem ser combatidos pelo fato de sofrer mutações constantes. A principal característica destes vírus é a síntese da enzima transcriptase reversa, que produz DNA a partir de uma molécula de RNA.

A imunodeficiência felina ou AIDS felina é uma síndrome dos felinos domésticos causada pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV) e foi primeiramente descrita por Niels Pedersen et al. em 1987. A doença se caracteriza pelo declínio gradual no número de linfócitos T periféricos CD4+ e, juntamente com outras alterações imunológicas, culmina no desenvolvimento da síndrome da imunodeficiência felina.

A disfunção imunológica torna o hospedeiro suscetível a infecções secundárias e é por este motivo que ocorrem as maiores complicações da doença.

  1. ETIOLOGIA

O FIV é um membro da família Retroviridae, gênero Lentivirus (mesmo gênero do HIV, vírus causador da imunodeficiência humana), com a partícula viral mede de 80 a 100 nm de diâmetro, sendo constituída por duas fitas simples de RNA não complementares, idênticas, de polaridade positiva. O vírus apresenta a enzima transcriptase reversa, capaz de reproduzir uma cópia de DNA (cDNA) a partir de seu RNA, possibilitando a integração do seu provirus no DNA da célula hospedeira.

Como outros retrovírus, tem três genes principais que codificam as proteínas virais sendo estes: o gene gag, que codifica capsídio, nucleocapsídio e proteína-matriz; o gene pol, que codifica a transcriptase reversa (RT); e o gene env, responsável pelas proteínas de superfície e pela transmembrana do envelope viral. Com base na variabilidade do gene env, já foram descritos 5 subtipos do FIV, de A a E, além de cepas recombinantes. No mesmo subtipo, outras variantes podem surgir. No Brasil, foi identificado apenas o subtipo B.

O envelope viral é lipossolúvel e o vírus é sensível a desinfetante, sabão, calor, dessecação e resiste poucas horas fora do hospedeiro, porém pode sobreviver de 24 a 48 horas em situações de umidade adequada.

 

  1. EPIDEMIOLOGIA

O vírus está presente na saliva e no sangue do animal infectado e é transmitido principalmente por mordedura ou feridas. A transmissão da mãe para o filhote pode ocorrer no útero, durante o parto ou pela amamentação. Os filhotes de gatas soropositivas saudáveis podem se tornar persistentemente infectados e se a mãe estiver na fase aguda da doença durante a gestação, mais de 70% dos filhotes podem nascer infectados. A transmissão horizontal do vírus em gatis ou em domicílios com múltiplos gatos é aparentemente rara.

Os felinos domésticos de qualquer idade são suscetíveis à doença e não há predisposição sexual. Porém, há maior prevalência de gatos machos infectados, sendo este fato associado às brigas constantes na espécie em indivíduos de vida livre. Os filhotes desenvolvem mais facilmente a síndrome de imunodeficiência. O tempo de sobrevida dos animais infectados varia de 5 a 8 anos.

 

  1. PATOGENIA

A replicação viral ocorre nas células dos órgãos linfoides e de outros tecidos ricos em células linfoides. A diminuição das células CD4+ é uma característica sabida da infecção por FIV, porém o vírus se replica em outros tipos celulares como os linfócitos B, células de linhagem neuronal e da linhagem monocítica/macrofágica.

O pico da carga viral ocorre entre 8 a 12 semanas após o início da infecção e a reação da resposta imune do hospedeiro é capaz de reduzir drasticamente o número de partículas virais circulantes, mas a eliminação completa do agente do organismo não ocorre. Os anticorpos neutralizantes da FIV são detectáveis em 2 a 4 semanas.

Após a infecção aguda e aparente fim da viremia, a infecção fica inaparente por um período variável. Porém, a infecção se torna latente, porque a replicação viral continua nas células e tecidos já infectados e é possível a detecção do vírus através de soro ou plasma, líquido cefalorraquidiano, sêmen ou tecidos linfoides.

Nesta fase, a patogenia da infecção pelo FIV é progressiva, ocorrendo diminuição gradual dos linfócitos T CD4+ e inversão da relação CD4+/CD8+. Outras anormalidades imunológicas ocorrem como: a redução e/ou alteração da expressão das moléculas da superfície celular e dos receptores de citocinas, desequilíbrio na produção de citocinas e hipergamaglobulinemia, sendo esta última reflexo da estimulação policlonal de células B. A hipergamaglobulienemia leva a doenças imunomediadas comuns na doença.

 

  1. SINAIS CLÍNICOS E EVOLUÇÃO

A infecção pelo FIV progride lentamente, sendo reconhecidos os estágios da doença, tendo semelhança com o HIV em humanos. Essa divisão é útil do ponto de vista clínico, sendo assim na prática, estes estágios são: a fase aguda da infecção; fase clinicamente inaparente; e uma fase terminal da doença.

Os sinais clínicos são inespecíficos e incluem febre, perda de apetite, menor atividade física durante a fase aguda, e discreta linfadenomegalia na fase aguda. Durante o estágio final da doença, os sinais clínicos são decorrentes de infecções oportunistas, neoplasia, mielossupressão e doença neurológica.

A estomatite e gengivite podem ser observadas em qualquer estágio da infecção e a coinfecção com calicivírus felino torna o quadro clínico mais grave, com surgimento de lesões odontoclásticas nos casos mais avançados. A diarreia, uveíte anterior, retinopatias, alterações comportamentais (mais comum), convulsões, alteração no padrão do sono e paresia também são sintomas comuns da doença. Dependendo do paciente e da cepa viral envolvida a perda de peso e o depauperamento gradual das condições orgânicas são as alterações mais características da imunodeficiência felina.

  1. PATOLOGIA CLÍNICA

As alterações laboratoriais não são patognômicas da infecção. Na fase aguda da infecção podem ser encontradas neutropenia e linfopenia, e estas tendem a se normalizar quando a infecção evolui para a fase assintomática. As citopenias na doença são variáveis como anemia, linfopenia, neutropenia e trombocitopenia.

Em relação às alterações bioquímicas não são encontrados achados significativos a não ser pela hiperproteinemia resultante de hipergamaglobulinemia e azotemia. Pode-se suspeitar de FIV quando houver azotemia e não houver indícios de lesões renais.

 

  1. DIAGNÓSTICO

O diagnóstico do FIV é baseado na combinação de métodos de diagnóstico, somados com o histórico e dados epidemiológicos. A infecção persistente pelo FIV faz com que ocorra a produção contínua de anticorpos, sendo possível detectá-los facilmente e havendo a presença de anticorpos é sinônimo de infecção. Falsos-positivos e falsos-negativos podem ocorrer e a chance deste tipo de resultado se dá quando se utiliza sangue ao invés de soro e é importante lembrar que anticorpos maternos podem gerar falsos-positivos, sendo necessários repetir o teste sorológico após 6 meses.

Em casos de dúvida ou divergência de resultados nos testes de ELISA, a confirmação pode realizada através de Imunofluorescência indireta ou Western blot. O PCR é um método sensível e específico para a detecção da partícula viral, porém limitações inerentes a técnica e a alta variabilidade viral são fatores que influenciam na confiabilidade do teste. O PCR real time está sendo aperfeiçoado com o uso de sondas para regiões conservadas do genoma.

Alterações macroscópicas e histopatológicas dependem do desenvolvimento de neoplasias e infecções sistêmicas. As alterações histopatológicas mais evidentes são infiltrado inflamatório perivascular, encontrado em todos os órgãos e glomerulonefrite, sendo esta última, provavelmente a principal causa da instalação gradual da insuficiência renal crônica nos felinos portadores do FIV.

 

  1. TRATAMENTO

As diretrizes gerais para o tratamento dos felinos infectados pelo FIV são praticamente as mesmas descritas no tratamento por FeLV e animais infectados podem viver normalmente por anos. Sendo assim, o tratamento é baseado de forma a melhorar a qualidade de vida do felino infectado e prevenir futuras doenças secundárias. Boa nutrição e um lugar calmo para o gato viver com mínimo de estresse possível são fatores importantes. Fármacos antivirais que interferem com o ciclo de replicação viral também podem ser utilizados.

O tratamento mais comum é o realizado com inibidores da enzima transcriptase reversa (RT) e são divididos em três classes:

1 . Análogos nucleosídeos – Tóxicos uma vez que servem de substrato não só para enzimas virais como também para celulares. Ex: zidovudine, stavudine;

2 . Análogos nucleotídeos – Interagem com o local catalítico da RT e incorporam-se no filamento de DNA. Ex: adefovir e tenofovir;

3 . Não nucleosídeo – Interagem com o local alostérico da enzima e não é incorporado no filamento de DNA. Ex: suramin.

Análogos nucleosídeos como zidovudina (AZT), sozinha ou em combinação com outros fármacos, podem ser utilizados. A Zidovudina bloqueia a transcriptase reversa (TR) dos lentivírus e quando é utilizada antes do vírus se instalar, faz com que o início da viremia seja desacelerada e melhora o sistema imunológico do gato infectado.

O exame clínico periódico anual deve ser realizado para a detecção precoce de alterações de saúde do animal. Na presença de infecções adjacentes o tratamento deve ser instituído de acordo com o agente causador.

Quanto à estomatite, é necessário realizar a limpeza periódica dos dentes e uso de antibióticos, que propiciam o alívio, mas não a cura. Os glicocorticoides devem ser evitados já que o sistema imunológico do animal já está em processo de depleção. O uso de AZT e lactoferrina bovina podem ser benéficos. A extração de todos os dentes pode ser indicada quando os casos de gengivite crônica tenham sido refratários a qualquer tratamento.

Em relação à vacinação de animais positivos, recomenda-se administrar apenas a vacinas essenciais (panleucopenia e rinotraqueíte), de preferência inativadas, pois qualquer estímulo antigênico pode ser potencialmente prejudicial à saúde de felinos infectados.

Ademais, as recomendações gerais são de testar todos os felinos para se conhecer o estado do animal e assim tomar as medidas necessárias para melhorar a qualidade de vida do indivíduo.

 

  1. PROFILAXIA E CONTROLE

O maior obstáculo para produção de uma vacina é a grande variabilidade genética do vírus. Uma vacina inativada é amplamente comercializada nos EUA, mas não abrange o subtipo B do FIV presente no Brasil e sua eficácia contra esse subtipo ainda não foi comprovada a campo. Esta vacina é aplicada em 3 doses e com reforço anual e é utilizada principalmente em animais incluídos em grupos de risco.

Os testes sorológicos não diferenciam anticorpos vacinais dos anticorpos produzidos pela infecção natural e a vacina não garante a proteção por outros subtipos do FIV. Desta forma, o melhor meio de proteção é a segregação de animais infectados.

 

  1. REFERÊNCIAS

 

BOEHRINGER INGELHEIM. Bula da Fel-O-Vax FIV® Vaccine (Inactivated). Disponível em: < https://datasheets.scbt.com/sc-363318.pdf>. Acessado em: 28 de novembro de 2021.

MEGID, J, RIBEIRO, M.G. PAES,A.C. Doenças infecciosas em animais de produção  e  de companhia, 1 ed., Editora Roca. Rio de Janeiro, 2016.

SLIDES DE AULA DO PROF DR GUILHERME NUNES – FIV E FeLV – CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA FACULDADE DE VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE.

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